segunda-feira, 24 de julho de 2017

ARTIGO - O Dom Sebastião de Curitiba (HE)


O DOM SEBASTIÃO DE CURITIBA
Humberto Ellery*




Quando D. Sebastião, neto e sucessor de D. João III, rei de Portugal, desapareceu misteriosamente, aos 24 anos de idade, combatendo os sarracenos na batalha de Alcácer-Quibir, subiu ao trono  seu tio-avô D. Henrique I, o Rei Cardeal.

Com a morte deste, e com a dificuldade de definir um herdeiro, o espanhol D. Felipe II, da casa dos Habsburgos, que era viúvo de uma filha de D. João III, assumiu o poder e anexou Portugal à Espanha, para tristeza do povo lusitano.

Como o corpo de D. Sebastião nunca apareceu, os portugueses o imaginavam vivo e sonhavam com sua volta em breve para retomar o trono e restaurar a independência de Portugal.  Surgiu assim o Sebastianismo, e D. Sebastião recebeu os agnomes de “O Desejado”, e “O Adormecido”.

Mesmo após a retomada do trono português  sessenta anos depois, com D. João IV (fundador da dinastia dos Bragança), essa lenda persistiu por quase três séculos, dando margem a que surgissem farsantes que, se passando por D. Sebastião, enganassem o povo. O mais famoso foi um calabrês chamado Marco Túlio Catizone, que, mesmo sem falar português, enganou muita gente em Veneza, e ficou conhecido como o D. Sebastião de Veneza.

Incrivelmente, esse sentimento atravessou o Mar Tenebroso e chegou até nós, herdeiros dos lusitanos, que estamos sempre sonhando com um D. Sebastião dos trópicos. Foi assim que surgiu o “Queremismo”, que nos deu o D. Sebastião de São Borja, depois, montado numa vassoura, tivemos o D. Sebastião de Campo Grande, em seguida tivemos o D. Sebastião das Alagoas, e por último o D. Sebastião de Garanhuns. Deu no que deu!

Pois não é que já está em plena gestação, lá na terra das araucárias, o D. Sebastião de Curitiba? É bem verdade que o Álvaro Dias lançou seu nome apenas a Senador, mas o rapaz está sonhando mais alto, quer ser Presidente da República. Se ele se contentasse em ser apenas senador traria um enorme ganho para o estado do Paraná, haja vista que os outros são o Roberto Requião e a Gleisi Hoffmann. Não é muita vantagem ser melhor que esses dois, mas já é um ganho.

O seu grito de guerra, visando atrair para si as preferências do eleitorado é: “querem acabar com a Lava-Jato”. Observem a semelhança com o “não me deixem só!”, do Collor de Mello. Eu já assisti a esse filme. E o artista morre no fim!

Por último, resolveu confrontar o Presidente Temer, para se apresentar como seu contraponto, exatamente como “O caçador de Marajás” fez com o Sarney. As críticas não precisam nem ser coerentes. O povão quer é sangue.

Analisem comigo sua recente manifestação criticando o aumento das alíquotas do PIS/Cofins sobre os combustíveis, feitas via facebook, passo a passo:

1.   Desviam 200 bilhões por ano praticando corrupção.

“Desviam” quem, cara-pálida? O  sujeito está indeterminado. Além do mais, de onde saiu esse valor tão alentado? Quem calculou, utilizando qual método de mensuração? Sabe a quem compete combater a corrupção? Ao Ministério Público Federal. Como um valor tão grande passa todo ano despercebido pelo MPF?;

2.  Deixam de aprovar no Congresso medidas anticorrupção.

O que o Congresso faz ou deixa de fazer tem alguma coisa a ver diretamente com o Presidente? Já ouviu falar em Montesquieu e a divisão dos poderes? Será que está se referindo às tais dez medidas? Um amontoado de medidas inócuas, tanto que o MPF está empreendendo o maior combate à corrupção da História sem precisar de nenhuma das tais desmedidas, sendo que pelo menos quatro são absolutamente fascistas, como:

a) praticamente a extinção do Habeas Corpus;

b) a ampliação absurda das condicionantes da prisão preventiva;

c) o teste aleatório de honestidade;

d) e a admissão esdrúxula de provas ilícitas, quando colhidas de “boa-fé”.

3.  Gastam mais do que devem inclusive via emendas milionárias para parlamentares a fim de comprar o apoio parlamentar para livrar o Temer da acusação legítima de corrupção.

O Governo Federal herdou do PT a maior recessão da história, um déficit público gigantesco, promoveu um contingenciamento de quase 50 bilhões de reais, inclusive em emendas parlamentares obrigatórias e não obrigatórias, não tem mais onde cortar gastos sem comprometer o funcionamento mínimo do governo. Das emendas liberadas mais de 60% foram destinadas à área da saúde, e o restante para educação e infraestrutura. Se você acha que é legítima uma denuncia baseada apenas em delações de um criminoso confesso, (que seu chefe premiou com um perdão judicial, sem apresentar nem denuncia) sem nenhuma prova material, é porque seu senso de justiça diverge diametralmente dos ditames do nosso arcabouço jurídico.

4.  E agora querem colocar a conta disso tudo no nosso bolso aumentando impostos.

Qual a sua sugestão? Dar pedaladas fiscais? Alterar a meta do déficit? Sabe as consequências? Ou é melhor aumentar uma alíquota de um imposto de combustíveis que terá um impacto limitado na inflação que continua em queda?

O nome do partido do Álvaro Dias, que pretende sair candidato a Presidente da República com o Catão das Araucárias, por enquanto, candidato a senador, é Podemos. Tomara que depois de eleitos não queiram mudar a primeira consoante de Podemos, que é oclusiva bilabial surda, por outra consoante, esta fricativa labiodental surda: “Fodemos”.




COMENTÁRIO:

Encontrei na página 139, do livro “Sanguessugas do Brasil”, de Lúcio Vaz, duas passagens em que, na época, o deputado Álvaro Dias (hoje senador) é citado em relação a investigação sobre a distribuição de remédios e ambulâncias no Estado do Rio Grande do Norte, através da Fundação Aproniano Sá. 

Uma parcela desse material (medicamentos) foi utilizada com objetivos eleitorais, outra nem sequer chegou ao destino. Duas emendas da bancada do Rio Grande do Norte haviam colocado um milhão e oitocentos mil reais na fundação. Individualmente, a maior contribuição havia sido do deputado Álvaro Dias (PDT): um milhão e seiscentos mil reais. Duas das emendas que beneficiaram a fundação, uma da bancada e outra de Álvaro Dias, destinaram 800 mil reais para a compra de ambulâncias no Estado”.

Pergunta-se: Por que um deputado paranaense destinaria emenda para o Estado do Rio Grande do Norte? Os remédios e as ambulâncias foram objeto de investigação. No livro não consta acusação formal contra a pessoa do deputado, mas fica sempre uma interrogação nessa história.

José Augusto Câmara

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