quinta-feira, 6 de março de 2014

PREFÁCIO

ADOLESCÊNCIA, EDUCAÇÃO SEXUAL E PROMOÇÃO DA SAÚDE
Prof. Vianney Mesquita*


O pessoal da saúde trabalha sem cessar para nos conservar hígidos, enquanto os cozinheiros buscam destruí-la; mas estes têm mais certeza de êxito. (DENIS DIDEROT - * Langres, 05.10.1713; + Paris, 31.07.1784).

A simples vista d’olhos pelo perfil das três conhecidas e apreciadas subscritoras deste trabalho será suficiente para o leitor avaliar, in limine, a qualidade contida no livro, em apropriada ocasião, dirigido ao público nacional com o selo de uma das melhores casas editoriais universitárias do Brasil – as EDIÇÕES UFC – há 35 anos no mercado livreiro especializado.

Em aditamento à prontidão acadêmica expressa nos curricula e à diligência prática das professoras doutoras Aline Brilhante, Ana Catrib e Raimundinha Magalhães no trato da temática sob exame, a terminante relevância do assunto a respeito do qual refletem se apresta para conferir – redundantemente – mais mérito a esta edição, sob o título de Educação Sexual na Adolescência como Estratégia de Promoção em Saúde.

Cuidam as escritoras, com efeito, do concurso de três ordens de ação adequadas à integral circunstância de bem-estar, consoante prescreve a Organização Mundial de Saúde, conforme expressas na sequência.

1) Adolescência e sua compreensão prático-científica de exercício complexo, como estádio etário de dez a 19 anos, consoante a World Health Organization (não entre dez e 19 anos, segundo é disposto, recorrentemente, nas literaturas de feição investigativa de todos os gradis conceituais, pois, entre dez e 19, estão de 11 a 18).

 2) Educação sexual feita necessidade absoluta para linear o comportamento dos jovens, com vistas à execução do sexo responsável e prudente – atividade também de indiscutível enredo e que solicita, de quem a subministra, responsabilidade ético-deontológica, conhecimento alargado e apuro científico, predicados compadecidos aos  que portam as investigadoras sob comentário.

 3) Promoção da Saúde, nos termos da Carta de Otawa (1986), documento-chave para diversos eventos internacionais do gênero, sucedâneo de outras cimeiras de saúde e encontros afins, como, verbi gratia, a Conferência acerca de Cuidados Primários, efetivada em Alma-Atá (Cazaquistão - ex-URSS), em 1978.

Na compreensão do que foi antedito em Otawa (Canadá, 1986), a ideia de Promoção da Saúde configura a capacitação das pessoas e da sociedade em geral para mudarem as circunstâncias determinantes de saúde, em benefício da qualidade para a higidez total de cada um, não significando o estado saudável, apenas, ausência de doença.

Dessume-se com clareza (desnecessário ser experto no assunto) o fato de esse conceito atentar para a presumida protagonização das pessoas – protagonismo entendido como o ato de empoderar-se, neologismo dicionarizado procedente de “empowerment” – a fim de que sejam habilitadas na faculdade de se desenvolverem em proveito de sua qualidade de vida na condição de sujeitos e comunidades desembaraçados e expeditos.

E é, por conseguinte, isto que se opera, em especial, por intermédio da Educação, no caso de adolescentes, daquela de perfil específico atinente à sexualidade, tão bem configurada nesta edição, em busca de promover e conquistar a saúde, no seu mais assinalado entendimento.

Neste passo, entendem as pesquisadoras, as comunidades hodiernas inteligentes conhecem da relevância de se debater mais amiúde a respeito do tema sexualidade, maiormente na fase dos dez aos 19 anos, quando se proporciona o registo de eventos de ordem da fisiologia e da psique, ocupando todo o espectro emotivo daquele segmento postado nesse intervalo etário.

Cônscias estão as autoras, conforme anotam no estudo preambular deste volume, de que, no estádio de idade ora sob exame, os jovens necessitam aportar conhecimentos verdadeiros, honestos e precisos no tocante à anatomia e à fisiologia de todo o conjunto somatológico, nomeadamente da equipagem genital, de ambos os gêneros, bem assim dos processos biofisiológicos de reprodução e no concernente aos modos de prevenir enfermidades e gravidezes inoportunas.

Entendem que a “[...] Sexualidade, todavia, é uma forma de comunicação entre as pessoas, sendo influenciada pela educação recebida e pelas experiências vividas durante a infância e a adolescência”.

Exprimem, em aditamento, a noção de que se mostram de relevância as práticas “[...] positivas que acompanham o crescimento, tais como os cuidados com o corpo, o relacionamento de carinho com os pais e a aceitação do próprio corpo”, explicando, à guisa de ampliação da ideia, como o ser humano, “[...] acima de tudo, é social por excelência”, de sorte que o vínculo é realizado “intensamente por via da sexualidade. 

A educação sexual, como processo educativo, engloba o desabrochar da personalidade da pessoa como ser sexuado”, tendo por principal escopo a evolução da psicossexualidade da criança e do adolescente, visando à consolidação da personalidade na adultícia.
 
Entre outras razões, encontradiças no compêndio ora comentado, alteia-se a necessidade, por elas manifesta, de descortinar a educação sexual configurada em ações para coadjuvar o adolescente no conhecimento, compreensão e respeito ao seu igual.

Com efeito, compreendem as professoras, releva aclarar a este público ainda abstinente de certas compreensões, ultrapassando os procedimentos de cariz biológico, o fato de que se exibe como basilar a educação de conteúdo instrucional sobre sexualidade, habilitada – quando apropriadamente empregada – a desenvolver aspectos particulares dos jovens, com vistas a elucidar pontos obscuros ou apenas parcialmente por eles compreendidos.

De se deplorar – reclamam, e isto constitui a mais diáfana verdade – o fato de essa modalidade educacional prosperar, mesmo no correr adentrado do século XXI, com um gravame de preconceito, porquanto não restam transmitidos aos corpos professorais das escolas os devidos conteúdos para que trabalhem item assim complicado, intocável, até, na conceição de alguns.

Por lado diverso, os estabelecimentos de ensino – isto é, as autoridades escolares dos municípios, Estados-membros e de Brasília – decerto, preterem seu mister de responsabilidade educacional, desconhecendo, ou mesmo abstraindo, de caso pensado, o fato de que instruir e educar significa bem mais do que aprontar para o mercado laboral, mas é, também e principalmente, concorrer para afeiçoar pessoas plenas, “com capacidade crítica e noções claras de vida e cidadania. Este fato é motivo de inquietação para alunos e professores quando o tema é Educação Sexual nas escolas”.

As docentes-investigadoras, com efeito, depois de estabelecerem o contexto efetivo de sua procura, e ao delimitarem suas lindas de começo, meio e cabo – fato peculiar a toda busca de urdidura científica – levantaram indagações de pesquisa, algumas das quais vão aqui reproduzidas, à semelhança do que está no introito deste relatório: os docentes estão prontos para esclarecer as dúvidas e desconfianças dos estudantes acerca de educação sexual? A escola julga ser seu papel atuar nesta seara? Quem é responsável pela educação sexual dos jovens – a escola, a família ou ambas?

Essas dúvidas tiveram origem – e foram depois apreciadas pelas três pesquisadoras - no consultório de Ginecologia de uma das autoras – a Professora Doutora Aline Veras Martins Brilhante – e serviram como mote de partida para a investigação.

De tal maneira, as razões fundantes deste ensaio se vinculam ao exercício reiterado no dia a dia de um atendimento ginecológico, ao lidar a profissional dessa especialidade de facultativa com adolescentes, portadoras de “[...] dúvidas e com suas certezas, por vezes equivocadas do ponto de vista médico”.

Na perspectiva das escritoras do experimento agora relatoriado, é divisada com clareza meridiana a desinformação, “[...] tanto de aspectos biológicos como subjetivos. Percebemos, também, como esse aspecto é prejudicial para a saúde física, emocional e social” – rematam.
Consoante elas próprias evidenciam no exórdio desta publicação, as retrocitadas certificações conduziram à indispensabilidade de melhor entendimento dos limites docentes e possibilidades de os adolescentes compreenderem o alcance da educação sexual.

Radica sua intenção, pois, em dilatar seus saberes e exercícios para assenhorearem-se dos ditames da sindicância científica, senão, ainda, em alargar conhecimentos na contextura da Educação, Saúde e Promoção da Saúde, desideratos que, por certo, serão deferidos, em atenção ao ingente esforço investigativo despendido neste experimento, por intermédio destas que retêm engenho e dedicação diuturna à arte-ciência de empreender pesquisas e operar diretamente suas práticas de instruir e educar para a sexualidade.

Ao perlustrar esse caminho, nem tão despavimentado, mas com anteparos de estorvos e calhaus, configurados na desídia dos (des) mandatários educacionais do País, na incúria do Ser Estatal em conceder alívio para as questões cruciais, particularmente, da educação sexual, as autoras explicam que sulcaram o mar.

[...] da sexualidade – da sua evolução histórica e sua relação com a saúde; passeamos pela adolescência – sua relação com a sexualidade, a influência desta na formação da personalidade, como sucedem as relações de gênero nessa fase da vida e quais as percepções e conhecimentos dos jovens sobre as doenças sexualmente transmissíveis; por fim, discorremos a respeito da importância da educação como agente de promoção da saúde, sobre a Educação Sexual no contexto escolar e as dificuldades de lidar com tema ainda tão polêmico e controverso.

Almejam, por fim, que a pesquisa levada a efeito, à proporção que as conduz ao melhor conhecimento por parte de mestres e discentes a respeito do assunto, no concerto escolar de hoje, logre concorrer também para que resulte implantada a educação sexual nas escolas, jungida a um programa educacional e de Promoção à Saúde, que se exprima como estável e necessariamente duradouro.

Sob o prisma da configuração gramatical e do feitio elocutório, o texto é da maior qualidade, pois assente aos bons requisitos de regras da Língua – e língua culta, como tem de ocorrer com o escrito científico, bem assim é aprimorado estilisticamente, com fácil leitura e demodulação ligeira, evidentemente por quem está afeito ao léxico de escrita e fala das ciências da Educação e da Saúde.

Já no concernente ao caminho metodológico pinçado para investigar, este foi o mais consentâneo possível, na forma qualitativa, o que ensejou a obtenção de descrições pormenorizadas das circunstâncias ocorridas no estudo, visando ao entendimento do que os sujeitos expressavam na sua linguagem, estado em que o investigador é conduzido a ser maleável e criativo quando da recolha e exame dos indicadores anotados.

As autoras se utilizaram, neste estudo, da entrevista semiestruturada, técnica a oferecer aos partícipes da investigação a devida maleabilidade com liberdade, pois, como ensina a literatura – devidamente creditada no segmento próprio do livro – propicia uma natureza de conversação, emulando os sujeitos que respondem a pesquisa à decisão respeitante às dimensões relevantes de uma ocorrência fenomênica e à formulação daquilo expresso como essencial à investigação.

Ao jeito de encerramento destes comentários, temos a exprimir o fato, honesto e veraz, de o trabalho significar aporte de peso às compreensões, até agora expendidas, pertinentes a esta tresdobrada temática – Adolescência, Educação Sexual e Promoção da Saúde – publicadas aqui e no Exterior.

Efetivamente, a investigação agora publicada poderá, por conseguinte, experimentar circulação pacífica no universo da Academia, no âmbito da graduação e no patim da pós-graduação, em programas das grandes áreas de Educação e de Saúde, especialmente no Brasil e demais (oito) comunidades lusófonas – Portugal, Angola, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau Timor Leste e Macau.

Bem assim, é passível de ensaiar (por que não?) em outras nações, mormente naquelas onde, a exemplo do Brasil, o item educação sexual ainda é desapercebido das indispensáveis atenções das pessoas – estas por falta de informação – e do Estado, por inapetência de fazer o que lhe é atribuído como obrigação pela Carta Maior e a legislação infraconstitucional.

Esta é a nossa expectativa, encaminhando-se para a convicção, na iminência de se efetivar.

Fortaleza, março de 2014.


*Vianney Mesquita é docente adjunto IV da Universidade Federal do Ceará. Escritor e jornalista. Autor de 13 livros de ensaios em Ciência da Comunicação, literatura, crítica literária e religião e de vários artigos em revistas científicas brasileiras. Acadêmico titular da Academia Cearense da Língua Portuguesa e acadêmico titular emérito da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo.

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