domingo, 30 de março de 2014

CRÔNICA (WI)

NO CEARÁ É ASSIM...
Por Wilson Ibiapina*

 Se tivesse acreditado na minha brincadeira de dizer verdades teria ouvido verdades que teimo em dizer brincando. Falei muitas vezes como um palhaço, mas jamais duvidei da sinceridade da plateia que sorria”. (Charles Chaplin)


Férias no Ceará. Beira do mar em Icaraí, Caucaia. Depois de uma manhã na praia e no sol, saímos à procura de comida e fomos bater no único restaurante da vila. Ficamos espantados quando vimos o comerciante, agindo sem o menor interesse em faturar. A Edilma, minha mulher, foi quem perguntou ao dono o que tinha para o almoço. Ela, que não é cearense, não acreditou no que ouviu como resposta: ”Queira não. O cozinheiro faltou e quem está na cozinha é minha mulher. Ela não sabe cozinhar, não sabe fazer nada.

Na mesma praia, presenciamos um turista paulista pedir 20 sanduíches pra viagem. O dono também desnorteou o freguês recém-chegado de uma cidade que privilegia o lucro: “Home, isso dá muito trabalho. Leve o salame, compre o pão ali na padaria da esquina e faça sua merenda em casa.” O paulista foi embora sem entender nada.

Nos anos 60, estávamos com um grupo de amigos farreando na Beira Mar, em Fortaleza e fomos bater na colônia de férias do SESC, na Praia de Iparana, em Caucaia. O dia amanhecendo, o porteiro avisou: só entra quem tá veraneando.

– Chama o chefe – pedi. E  lá vem um major da reserva, ainda quase dormindo, de bermuda, esfregando os olhos.

– Major, sou jornalista e estou aqui com esse grupo de colegas do Rio, São Paulo e Recife.

São meus convidados – disse o militar, e foi abrindo o portão.

Fui fazendo a  apresentação: “Paulo Sabóia, do Jornal do Brasil; Álvaro Augusto, d'O Jornal, Augusto César, do Diário de Pernambuco; e foi faltando nomes de jornais. Ultima Hora, Gazeta, Diário de Pernambuco, Correio da Manhã...” e aí tive que apelar: “E aqui é o Nanã, engenheiro da terra”. Só não esperava a sinceridade deste:  “Engenheiro, não, macho. Faço o primeiro ano”.

Oscar Wilde dizia que “pouca sinceridade é uma coisa perigosa, muita sinceridade é absolutamente fatal”. Será sinceridade demais desse nosso povo? Juro que não sei se esse modo de agir é pura preguiça, malícia, ironia ou apenas a pura verdade dita com a simplicidade do povo do sertão. Só sei que no Ceará é assim.

*Wilson Ibiapina
Jornalista
Diretor da Sucursal do Sistema Verdes Mares de Comunicação
em Brasília - DF
Titular da Cadeira de nº 39 da ACLJ


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