sábado, 22 de fevereiro de 2014

CRÔNICA

EPIDEMIA CONTAGIA A COPA
Por Paulo Maria de Aragão*


Lia-se num velho almanaque: “Um estudante de botânica, viajando pelo interior, encontra um caboclo. Conversa daqui e dali, o camponês pergunta: ‘Vancê sabe o nome daquela árvore?’ O futuro botânico responde: ‘Sim, é um ingazeiro’. O roceiro retruca: ‘Nós, qui, chama de árvore do governo’. Curioso, indaga o rapaz: ‘Por quê?’. O capiau sacia a curiosidade do estudante: ‘Pode repará, tem parasita inté nos úrtimo gaio’”.

Em verdade, pior do que a peste dos ingazeiros é a das corrupções endêmicas e epidêmicas. No país surrealista, tudo é possível, exceto detê-las, vicejantes desde a chegada de Cabral, sem que até hoje tenham sido descobertos anticorpos para combatê-las. Confirmado o imaginário, “epidemiologistas” a encarariam como um “caso de saúde pública”.

A revista “France Football”, parceira da FIFA na premiação da “Bola de Ouro”, em sua última edição, com capa negra e o título ”O Medo do Mundial”, pautou os rumos e os gastos excessivos do Brasil para sediar a Copa de 2014, a qual é a que, não obstante dispor do maior tempo na história dos mundiais para prepará-la, enfrenta mais atrasos. A publicação censura a corrupção governamental, ao salientar que tudo se desenvolve na base da propina.


A reportagem faz ainda alusão comparativa ao custo do Stade de France - 280 milhões de euros, o mais caro da França, inaugurado em 1988, para a Copa do Mundo daquele ano. Reputa os gastos com o estádio francês vergonhosos quando comparado ao do Olimpiastadium, sede da final da Copa da Alemanha em 2006, que consumiu menos de 140 milhões de euros, e desdenha: para o Brasil não é nada; cada estádio sai em média por mais de 1,5 bilhão de euros bancados com recursos públicos; na França, o financiamento foi privado.

Retomado o imaginário da descoberta de anticorpos para combater a epidemia disseminada pelos lobos corruptos, a vacinação seria a medida eficaz. Infelizmente, não há vacinas para tais males. Na realidade, o que se vê é muito alarido a cada escândalo, seguido do “trânsito pelo esquecimento”, estimulante da cultura da impunidade.

Acaso, após o encerramento da Copa sejam apuradas as denúncias  noticiadas pela mídia, o desfecho assemelhar-se-ia ao de “O Processo de Kafka”: o investigado é absolvido e os investigadores condenados por terem desafiado o sistema.


(*) Paulo Maria de Aragão 
Advogado e Professor
Membro do Conselho Estadual da OAB-CE
 Titular da Cadeira nº 37 da ACLJ.

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